Há muito tempo eu vejo diversos veterinários reclamando sobre o número de faculdades de medicina veterinária no país, mas nunca li nada na internet sobre. Por isso resolvi escrever este artigo, justamente para fomentar a discussão sobre o tema.
A verdade é que o Brasil é um dos países com maior número de faculdades de medicina veterinária no mundo, isso se não for o maior. Na última palestra que assisti do CRMV, disseram que existiam 203 faculdades, sendo que essa palestra já foi há algum tempo, portanto, pode-se colocar mais uma meia dúzia nessa contagem. Para vocês terem uma ideia, nos Estados Unidos existem cerca de 30 cursos de graduação. Sete no Reino Unido. Treze na nossa vizinha Argentina. Só no Paraná eu contei umas 16 faculdades de cabeça, mas devem existir muito mais.
Atualização em janeiro/2019: em consulta ao site do MEC, existem atualmente 379 polos de ensino de veterinária no país.
Se a gente colocar uma média de 40 alunos por turma (média baixa, por sinal), nós teremos cerca de 8 mil novos profissionais no mercado, todos os anos! É lógico que é excepcional a população ter mais acesso ao ensino superior, e não estou nem questionando a saturação do mercado – que está saturadíssimo, inclusive – mas minha preocupação é com a inerente baixa qualidade desse ensino. O meu medo é que isso acabe virando uma bola de neve, agravando cada vez mais a situação da nossa profissão no país que, convenhamos, já é um tanto quanto caótica.
Como o mercado já não comporta tantos profissionais, inclusive os qualificados, muita gente acaba vendo como única alternativa a docência nestas novas faculdades, virando um círculo vicioso de formação de novos alunos. No final das contas, os únicos que realmente saem ganhando são os donos destas faculdades, que jogam a mensalidade lá em cima, disponibilizando baixa infraestrutura. Afinal, medicina veterinária é o segundo curso de graduação mais rentável para as faculdades, perdendo apenas para medicina. Não é raro eu ver algum leitor do Vet da Deprê reclamando que a sua instituição não possui clínica para atendimento ou laboratórios.
Este é um assunto muito pouco debatido, e é por isso que eu gostaria de propor a discussão dele aqui com vocês. A princípio, eu não enxergo nenhuma solução factível a curto e médio prazo. Na verdade eu me considero liberal e acredito que essa seja uma resposta do mercado: se há oferta, é porque há demanda. Se estão abrindo cursos a torto e a direito é porque existem alunos querendo estudar. O problema é que a demanda para os cursos de graduação existe por parte dos estudantes, mas será que existe demanda para novos profissionais no mercado? Não existe, definitivamente. Uma hora ou outra, dentro dos próximos 10 ou 15 anos, a bolha vai estourar: estes profissionais formados com uma base ruim não terão onde trabalhar (ou até terão, mas com remuneração esdrúxula) e a saída será deixar a medicina veterinária. Eu ainda concordo com aquele ditado “quem é bom, encontrará mercado”, mas o problema até aí é que a nossa profissão irá sofrer um desgaste muito grande, como citei neste artigo. Torçamos para que isso não afete ainda mais a sua credibilidade.
Mas eu gostaria muito de saber a opinião de vocês! Vocês veem um futuro animador para esta questão em nossa profissão? Será que um dia essa “bolha” das faculdades de medicina veterinária vai realmente estourar? Se é que já não estourou, né…