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Tenho o coração mole e quero fazer veterinária, e agora?

Já passei por momentos muito difíceis durante todo meu trajeto pela graduação e pela vida de médico veterinário. Momentos de indignação, quando animais atropelados eram levados ao hospital sem o motorista sequer ter parado para socorrer, ou quando aquele meu paciente era vítima clara de maus tratos. Momentos de tristeza, quando eu não consegui salvar a vida daquele paciente crítico, mas que ainda abanava o rabo. Ou ainda daquele paciente que lutou até o fim contra o câncer, mas que infelizmente não resistiu.

A vida do médico veterinário é marcada por diversos momentos como estes em que, muitas vezes, estamos de mãos atadas e o nosso coração fica apertado, pedindo por socorro. E uma dúvida muito frequente, principalmente de pessoas que estão pensando em prestar vestibular para a veterinária é:

– Sou muito sensível e tenho o coração mole, será que vou aguentar ver os bichinhos sofrendo… será que vou conseguir ser veterinária?

Geralmente os homens são menos sensíveis, ou pelo menos aparentam ser, que as mulheres. Eu mesmo, sempre fui forte para esse tipo de coisa, mas confesso que em algumas horas nosso coração pesa. Porém, ainda acho que a faculdade de veterinária – bem ou mal – nos prepara um pouco para essas situações e ficamos um pouco mais calejados durante o curso.

O primeiro e o segundo ano são divisores de águas, nesse sentido. Durante o primeiro ano o estudante é apresentado à disciplina de anatomia, na qual estudamos os músculos, ossos e órgãos de cadáveres de todas as espécies. Geralmente são cadáveres de animais que faleceram no hospital e aí já vem a primeira prova, não da teoria, mas da sua vocação. Além disso, devido ao forte cheiro de formol – nosso nariz se acostuma desde cedo com odores desagradáveis.

Ainda nos primeiros anos, temos algumas outras matérias – importantíssimas, por sinal – como fisiologia, embriologia e farmacologia. Porém, em algumas delas eu tive uma das experiências mais traumatizantes da faculdade, com o estudo em camundongos, cobaias e rãs, mas este é assunto para outro post.

Conforme vão passando os anos, a gente vai percorrendo pelas matérias de técnica cirúrgica, semiologia, clínicas, inspeção… Isso tudo vai nos dando uma bagagem muito grande, que nos ajuda a vencer os desafios emocionais. É, ainda assim não é fácil quando você é o médico responsável pelo caso, pela primeira vez, e precisa pensar rápido na melhor alternativa para salvar a vida do paciente. Mas ainda assim você segue em frente, e aprende com seus erros.

Sim, os momentos difíceis, de angústia e tristeza, existem durante a faculdade e durante a profissão. Só você poderá dizer se está preparado(a) para enfrentá-los. Mas não se esqueça, assim como existem os momentos de dificuldade, existem aqueles momentos em que seu paciente se recupera de uma condição gravíssima, momentos em que aquele com o prognóstico ruim, vai de alta. Momentos em que apenas uma lambida de “obrigado doutor” poderia descrever tamanha alegria e felicidade em ser médico veterinário!

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Criou o Vet da Deprê em 2011, quando ainda estava na faculdade. Hoje é Mestrando em Ciência Animal pela Universidade Estadual de Londrina. Gosta muito de marketing digital, é cachorreiro nato e não dispensa um bom livro. Instagram: @lgcorsi

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