Um tuíte publicado na rede chamou a atenção mundial, onde dizia: “Brasil, vocês são nosso próximo alvo. Podemos atacar esse País de m…”. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) considerou o perfil do jihadista autêntico e em nota afirmou: “A probabilidade de o país ser alvo de ataques terroristas foi elevada nos últimos meses, devido aos recentes eventos terroristas ocorridos em outros países e ao aumento do número de adesões de nacionais brasileiros à ideologia do Estado Islâmico”.
Embora o perfil dos atuais grupos terroristas islâmicos seja o ataque com força bélica, como profissional da área de saúde, quero alertar sobre uma das possíveis formas de terrorismo e tão PERIGOSA quanto… o BIOTERRORISMO.
Segundo o CDC (Center of Disease Control and Prevention) um ataque bioterrorista é a liberação deliberada de vírus, bactérias ou de outros germes (agentes) usados para provocar moléstias ou morte em pessoas, animais ou plantas. Estes agentes são tipicamente encontrados na natureza, mas é possível que possam ter sido alterados para incrementar sua capacidade de causar moléstias, torná-los mais resistentes aos medicamentos existentes ou para incrementar sua capacidade de se disseminar no meio ambiente. Agentes biológicos podem ser difundidos pelo ar, através da água ou de alimentos. Os terroristas podem usar agentes biológicos porque eles são extremamente difíceis de detectar e não provocam doenças antes de várias horas ou dias. Alguns agentes de bioterrorismo, tais como o vírus da varíola, podem ser transmitidos de pessoa para pessoa, enquanto outros, como o antraz, não podem.
Em 1984, ocorreu o primeiro caso de bioterrorismo nos Estados Unidos. Membros de uma seita na zona rural do Oregon espalharam Salmonella Typhimurium em bares que vendiam saladas na região do condado de Wasco County, com o objetivo de influenciar o resultado de um voto judicial. No fim das contas, foram relatados 750 casos de intoxicação alimentar e 45 vítimas tiveram de ser hospitalizadas (Leia mais aqui).
Em 1991, os russos introduziram material genético do vírus da encefalite equina venezuelana (VEE) no DNA do vírus da varíola, criando o chamado Veepox. Recentemente a mesma equipe criou um outro vírus recombinante (ebola-varíola-chimera) que produz uma varíola hemorrágica de efeito fulminante.
Portanto a pergunta não deveria ser “se vai ocorrer?” e sim “Quando?” e “O que fazer?”. Uma vez que certos agentes utilizados como armas biológicas precisam de um período de incubação, não apresentando seus efeitos imediatamente após serem dispersos, um evento de bioterrorismo pode ocorrer silenciosamente, sem nenhum aviso prévio, só sendo percebido quando surgem plantas, animais ou seres humanos doentes ou mortos. Dessa forma, quando as autoridades forem alertadas para a ocorrência de um evento deste tipo, o número de vítimas já poderá ser expressivo, sobrecarregando os sistemas de saúde e acarretando uma grande demanda de profissionais qualificados para atuar neste tipo de ameaça, quantidades expressivas de medicamentos e vacinas, materiais e equipamentos, além de informações e treinamentos adequados (Leia esse artigo sobre Bioterrorismo, riscos biológicos e medidas de biossegurança aplicáveis ao Brasil).
Assim, é de um modo aparentemente inesperado que a saúde pública passe a estar envolvida com um assunto antes de interesse apenas militar.
Qual o papel do veterinário contra o bioterrorismo?
A medicina veterinária foi de fato inserida na área da saúde somente na década de 90, por meio da Resolução n. 38/1992 do Conselho Nacional de Saúde–CNS/MS, alterada pela Resolução n. 218/1997–CNS/MS e republicada como Resolução n. 287/1998–CNS/MS (SOUZA, 2010). O Programa Saúde da Família (PSF) pode, por exemplo, contratar qualquer profissional da área da saúde, a saber: Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional, constantes nesta Resolução (CNS nº 287/1998).
O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro (CRMV – RJ), preocupado com o bioterrorismo nas Olimpíadas, reuniu uma equipe de especialistas (civis e militares) e elaborou um trabalho inédito, sob o título Defesa Biológica Nacional, endossado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, já entregue às autoridades federais. O objetivo é preparar o país contra um eventual ataque com armas biológicas, contribuindo para a redução da dependência científica estrangeira e organizando um sistema nacional de defesa biológica integrado e inteligente, baseado na vigilância epidemiológica.
Além disso, o Plano objetiva criar um centro estratégico integrado interinstitucional e multidisciplinar de defesa química e biológica para dar suporte estratégico, técnico, operacional e logístico aos vários níveis do governo; organizar uma força-tarefa, suficientemente equipada e adestrada para atuar em qualquer parte do território nacional e capaz de identificar os agentes químicos e biológicos, contingenciando as doenças exóticas; organizar uma rede de informação, de domínio aéreo-terrestre-marítimo, unindo pontos estratégicos de entrada e saída do País, para controle e monitoramento ambiental, em caso de emergência, e ativação do Plano Estratégico de Biossegurança Nacional.