Último ano da faculdade da veterinária chegando e o nervosismo começa a sondar seus pensamentos. A preocupação é um tanto quanto natural pois toda que vez que nos submetemos ao planejamento de situações futuras isso gera expectativas e isso por sua vez, nos deixa apreensivos (pessoas ansiosas me entendem). Agora com o diploma de bacharel nas mãos, seus parentes te chamando de “o Dr da família”, você decide enviar seu currículo para as indústrias, clínicas, fazendas, ou seja, empresas contratantes dentro da sua área de afinidade.
Todavia, o aspirante à médico veterinário se depara com um empecilho em sua busca por empregos. Uma frase com 22 letras que o deixa paralisado:
“É NECESSÁRIO EXPERIÊNCIA”
Você deve pensar: “é justamente isso que estou buscando … experiência”, mas eis que a empresa colocou uma nota de corte que o deixou sem chances de ingressar no mercado de trabalho. Talvez você tenha tido as melhores notas na graduação, fala inglês fluente, fez “n” estágios/monitorias, porém experiência não é algo que você compra. Ela vem à preço de suor, sacrifícios, erros cometidos, em outras palavras, ela vem com o tempo.
Então você resolve partir para o plano B, já que seu plano A foi frustado. A saber, seu plano A era trabalhar na sua área dos sonhos. Você se imaginava num jóquei cuidando dos equinos mais lindos do mundo; ou realizando cirurgias num hospital veterinário reconhecido; ou administrando uma fazenda no Mato Grosso com milhares de cabeças de Nelores; enfim seu plano B entra em ação … não ficar desempregado. Resolve dar uma chance a outras áreas que você não se imaginava trabalhando e envia seu currículo para empresas que não exigem experiência inicial.
Tenho um amigo veterinário que seu sonho era trabalhar na avicultura. Fez estágios, cursos, pós graduação, estudou e se dedicou para ingressar nesse ramo, mas não conseguiu. Então ele foi para o plano B e começou a estagiar numa clínica veterinária (de pequenos) de um amigo. Teve que se refazer, se reinventar. Hoje é um profissional qualificado para este segmento e não se vê fazendo outra coisa.
Outro exemplo é meu ex-professor de Clínica Médica de Pequenos Animais que hoje é um excelente profissional dessa vertente, mas que durante a faculdade fez o estágio curricular e TCC com bovinocultura de leite … a mudança de área assemelha-se ao exemplo anterior. Como eu disse, acredite em destino ou em Deus … talvez nem sempre o que planejamos na faculdade é aquilo que iremos realmente seguir para o resto das nossas vidas. Talvez a falta de experiência numa área e o consequente NÃO tomado na cara, lhe dará um empurrão para a sua verdadeira vocação profissional.
Porém existe o outro lado da moeda, diferente do exposto no parágrafo anterior. Seu primeiro emprego não foi na sua área de afinidade, mas o futuro te surpreendeu. Nesse exemplo, vou usar o meu caso: Sempre busquei trabalhar na área de controle da qualidade de abatedouros frigoríficos. Podia ser de bovinos, suínos, aves, enfim … era esse segmento que eu gostaria de seguir (embora sempre gostasse mais de aves), mas para ingressar ERA NECESSÁRIO EXPERIÊNCIA. Acabei indo para área comercial e não me arrependo (já falei disso aqui O veterinário e as vendas). Todavia mesmo estando trabalhando nas vendas, eu realizei uma especialização em Ciência Avícola, pois acreditava que um dia conseguiria ingressar na área de produção/qualidade de produtos de origem animal. Depois de aproximadamente 9 meses nessa empresa, fui chamado para trabalhar no mesmo abatedouro frigorífico que fiz meu estágio curricular (obrigatório).
Talvez você pergunte: “mas como você conseguiu esse emprego se não tinha a experiência necessária?”
De fato eu não tinha a experiência necessária para ingressar. Embora eu tivesse quase finalizando minha especialização e tivesse feito vários estágios durante a faculdade na Inspeção Federal, encarar um cargo de supervisor do SIF exigia muito mais do que eu tinha de preparo. Sendo franco com você, o fato deu ter conseguido essa oportunidade foi pelo bom RELACIONAMENTO que desenvolvi.
No período em que estagiei nesse frigorífico (no estágio curricular) desenvolvi um projeto interessante para a empresa, fui submisso à chefia e ao mesmo tempo dava novas ideias. Após o término do estágio não fui contratado, mas continuei trocando emails com os funcionários do setor (momento se sentindo velho: não tínhamos Whatsapp na época, somente MSN/email). Quando a vaga surgiu, optaram por uma pessoa de confiança para aquela função. Não foi a capacidade técnica que me garantiu a vaga, mas sim o bom relacionamento que tinha com eles. A chefia precisava confiar na pessoa para delegar as funções que exigiam extrema responsabilidade.
Acredito que eu soube aproveitar as oportunidades que a vida me deu (já falei sobre isso aqui relatos de um veterinário) e uma coisa foi levando à outra. Os estágios extracurriculares em frigoríficos me levaram à realização do estágio curricular nessa empresa, que por sua vez me entusiasmou para fazer a especialização em ciência avícola. O conjunto desses fatores me conduziram ao emprego que eu tanto desejava (com aquela pitada de bom relacionamento).
Conclusão
Se a vida lhe der um: É NECESSÁRIO EXPERIÊNCIA, seja resiliente e persista nas oportunidades que a vida lhe der. Cada desafio superado o conduzirá ao sucesso, seja ele na área dos seus sonhos ou naquela que você se descobriu.
Se a experiência for uma barreira, supere ela com o bom relacionamento!