As vezes a gente fica desmotivado com todas as dificuldades da profissão. Principalmente depois de formado, quando você tem que estudar, trabalhar, se manter e ser um bom profissional, com baixa remuneração e reconhecimento. Porém, mesmo com todos esses desafios, existem alguns momentos que mexem com a gente. Alguns momentos na qual sentimos que realmente nascemos para sermos médicos veterinários.
Um deles aconteceu comigo quando ainda estava na residência. Embora eu tenha feito na área de reprodução, lá na UEL os R1 rodam por todas as áreas de animais de companhia e naquela semana eu estava atendendo no pronto socorro. Fomos chamados para atender um filhote de uns 6 meses que havia sido atropelado, e estava com fratura completa de rádio e ulna direitos.
O senhor que o havia levado, e que também o havia atropelado, não era seu dono e o cãozinho havia entrado na frente do seu carro, assustado. Embora não tivesse condições de pagar a cirurgia, estava completamente comovido, convicto de que adotaria o Bob, nome que escolheu para o filhote.
Como seu novo tutor era desafiado financeiramente e o Bob estava com a fratura alinhada, a professora plantonista optou por fazer uma imobilização externa chamada Robert Jones modificada, onde acolchoamos o braço e colocamos uma tala, na tentativa de que a fratura se recuperasse sem intervenção cirúrgica. Em filhotes a cicatrização óssea é rápida e, por isso, estávamos confiantes.
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Como ele havia sido atropelado, embora não houvesse sinais de contusão pulmonar ou algo mais sério, lembro que ele acabou ficando internado algum tempo, mas não tive mais contato após isso. Mas uma coisa eu nunca vou esquecer – as palavras da minha professora ao tutor:
“Eu sei que é difícil adotar um animal assim de uma hora para outra, mas de uma coisa você pode ter certeza: ele será grato a você para sempre!”.
Passadas algumas semanas eu estava rodando pelo setor onde eram realizadas as trocas de curativo e talas. Na UEL a casuística de animais que necessitam de curativos diários é enorme, por isso um ou dois residentes ficavam responsáveis apenas por isso. Eis que em um dos retornos chega o Bob, abandando o rabo e pulando como se nada tivesse acontecido, como se aquela tala enorme nem estivesse ali no braço dele. Ah! Esqueci de contar, o Bob era mestiço de labrador, mó bonitão, então vocês podem imaginar a festa que era pra ele! hahaha
Chamei a professora que havia ajudado a gente a atender, repetimos o raio X, e os ossos já estavam praticamente consolidados. Mantivemos a tala mais um tempo apenas por precaução. Mas uma coisa eu não tenho nem como explicar: a alegria do Bob com seu dono e do seu dono como o Bob. O orgulho dele ao falar do Bob era imenso e a gente via o mesmo nos olhos do Bob. Uma alegria singela e simples, apenas por estar ali, com pessoas que queriam o seu bem.
É nessas horas que a gente vê o quão nossa profissão é privilegiada ao nos entregar esses momentos simples, mas fantásticos e cheios de felicidade, que podem parecer bobos, mas que realmente fazem a diferença. São momentos como esse que nos lembram a razão de nos dedicarmos todos os dias, mesmo nas situações mais adversas. São momentos como esse que nos lembram por que decidimos ser médicos veterinários.
Obrigada por esse texto!
Que lindo depoimento! Não vejo a hora de começar o curso e poder contar histórias assim…