Existem leituras corporais que nos ajudam a entender o animal, e essas leituras vieram surgindo de acordo com as pessoas que foram se aprofundando no dia a dia do cavalo, em seu cotidiano e na maneira com que ele se relaciona com outros de sua espécie. É essa leitura que iremos observar aqui.
Se a gente for analisar um cavalo, de acordo com a sua natureza e hábitos de vida, partiremos do princípio que o cavalo é uma presa. Ao observar um cavalo um dia inteiro ou um grupo deles, observaremos que eles estão sempre perto, que existe um líder, que é sempre o primeiro a comer, o primeiro a explorar algo ou lugares novos e que todos seguem seus passos. Anatomicamente e naturalmente ao olharmos um equino, veremos pontos significativos para uma análise e comunicação, pontos chaves a serem observados.
Começando pela cabeça analisamos que cavalos possuem:
Olhos
São laterais, ou seja, eles ficam ao lado de sua cabeça, mostrando que eles têm uma visão favorável em grandes distâncias, conseguindo ver um futuro predador de longe, e em um raio de 360 graus. Porém, a posição de seus olhos é desfavorável em distâncias curtas pois existem dois pontos cegos, de modo que os cavalos precisam movimentar sua cabeça para compensar. Por isso não devemos chegar a um cavalo pela frente ou por trás, pois provavelmente não seremos vistos e podemos assustar o animal que, em seu instinto de defesa, pode acabar nos machucando.
Orelhas
As orelhas dos cavalos são o principal meio de “observação” dele, então para onde sua orelha estiver direcionada, é onde o cavalo está prestando atenção. Logo, se o cavalo está focado em você, certamente uma orelha estará virada em sua direção. Isso nos ajuda a entender e observar no que ele está preocupado ou em estado de alerta. Elas também reagem em um estado de ataque ou de estresse profundo, onde ficam “murchas’’, ou seja, voltadas para trás, quase encostadas ao pescoço, nos mostrando um importante sinal de desconforto, estresse e raiva.
Narinas
As narinas dos cavalos servem para captar o cheiro das coisas e também para emitir barulhos, sejam eles para espantar uma presa ou alertar o seu grupo a uma possível ameaça. Em muitos casos, ao fazermos movimentos repentinos perto de nossos animais, conseguimos ver o animal emitir um som parecido com um ronco para nós, nos mostrando que se assustou e que aquilo pode ser uma ameaça para ele.
Pelos sensoriais
Os cavalos possuem pontos cegos e, para eliminar esses pontos cegos, necessitam mexer a cabeça, mudando o ângulo e direcionando ao ponto que querem observar. É dessa maneira que seus pelos ajudam os movimentos dos cavalos, pois toda vez que tocado em algo, o cavalo se situa e desvia do obstáculo. É muito comum, em equinos domesticados, esses pelos ou barbas serem aparados. Em locais já conhecidos pelos animais não há problema, porém caso ele seja remanejado para algum lugar desconhecido, pode acabar batendo em algum áreas que não enxergou. Esses pelos são grossos e ficam localizados a frente dos olhos, na parte inferior da cabeça e ao redor de seu focinho, lábios e narinas.
Lábios e boca
A boca do animal além de servir para morder, também tem seu ponto importante na leitura de sinais, pois é através dela que os animais emitem um sinal de relaxamento. Um cavalo que boceja e masca, porém, sem alimentos em sua boca, significa que está em um elevado nível de relaxamento e confiança naquilo que você está fazendo.
Patas
São animais de patas compridas, inclusive, um cavalo recém nascido, um potro, possui patas desproporcionais ao tamanho de seu corpo. Ele nasce com 10% do seu tamanho adulto e em 15 a 120 minutos o potro já está de pé e correndo. Essa diferença vai se tornando mais equivalente conforme vai crescendo, devido ao seu instinto de defesa e fuga. O cavalo foi desenvolvido para chegar a altas velocidades rapidamente com grande agilidade para saltos e curvas, facilitando sua fuga em ataques de predadores.
Podemos ressaltar ainda que sempre a primeira reação do animal será a fuga, então muitas pessoas levam coice ou mordidas de cavalos, principalmente porque de alguma maneira acabaram encurralando ou coagindo o cavalo de forma em que eliminou todas as possibilidades de fuga que ele pudesse ter e em um ato de desespero ele acabou atacando. Com isso, precisamos observar se não estamos invadindo o espaço do cavalo, que nos avisará, murchando suas orelhas, batendo suas patas no chão, cavando, ameaçando um ataque, tentando morder ou virando de costas para nos escoicear. Jumentos, ao contrário dos cavalos, possuem membros pequenos, logo não atingem grandes velocidades e por isso tendem a enfrentar os predadores. Por isso geralmente burros e mulas têm uma tendência a serem mais difíceis à doma.
Alimentação
O cavalo come quase que seu dia inteiro, pastando media de 12 a 15 horas por dia. Isso acontece porque o cavalo possui estômago pequeno, desenvolvido para várias refeições curtas, sendo necessário que ele coma muitas vezes ao dia. Esse hábito mantém o cavalo sempre leve, permitindo eficiência em sua fuga a qualquer hora. É por isso que muitas vezes onde os cavalos domésticos são encocheirados acabam se tornando agressivos ou desenvolvendo alguns vícios.
Como ele foi criado naturalmente para ser solto, andando de um lado a outro e comendo grande parte do seu dia, acaba se sentindo entediado quando é preso por muito tempo e em um local que limita as horas das refeições. Outro problema comum que esse sistema faz é o aparecimento de cólicas, pois o animal que foi desenvolvido a comer pequenas porções de alimentos um dia inteiro acaba sendo forçado a comer porções maiores e industrializados (ração), que não fazem parte de sua natureza.
Os equinos são muito sensitivos e observadores, sendo capazes de sentir uma pequena mosca pousar em seu corpo. Outro fato que destaca muito sua senbilidade é a capacidade de perceber o estado emocional de outro indivíduo através de uma leitura corporal, cheiro e até mesmo capazes de sentir batimentos cardíacos e vibrações emitidas no solo através dos passos.
Isso ocorre devido a glândulas sensoriais espalhadas por todo seu corpo, além de eficientes narinas e orelhas que fazem movimentos de 180 graus. Outra curiosidade está no fato que os cavalos defecam de forma involuntária e conseguem realizar essa tarefa em movimento. Além dessas curiosidades, os equinos possuem uma excelente memória e são capazes de lembrar fatos importantes, anos depois terem ocorrido.
Pedro Flores | bfpedroflores@gmail.com
Pedro é leitor do Vet da Deprê, formado em Gestão em Equinocultura e graduando em Medicina Veterinária. Ele também é administrador da fanpage Equinocultura, que é super interessante para quem curte o tema!