Passei no vestibular, o que eu preciso comprar?

Pois é, se você achou que as listinhas de materiais acabaram quando você estava na 8ª série, está muito enganado!

Na verdade muitas pessoas ficam desesperadas, pois mal acabaram de entrar na faculdade e alguns professores já vem com imensas listas de materiais para comprar. Eu mesmo tenho uma amiga que faz odontologia e, segundo ela, gastou aproximadamente 5 mil reais em materiais só no primeiro ano. Como todo bom calouro, fiquei desesperado, pois achei que gastaria tanto quanto ela, e com certeza não teria todo esse dinheiro para investir. Mas calma pessoal, assim como o Odonto Depressão ajudou seus calouros, também ajudarei vocês!

O primeiro ano de medicina veterinária é básico, muito básico. Você não precisará gastar absolutamente nada em materiais no primeiro semestre, e sim em livros (aproveite e clique aqui para ver nossas dicas). O que você precisará comprar é basicamente um jaleco para as aulas em laboratório (recomendo comprar dois) e uma caixa de luvas de procedimento para as aulas de anatomia. Alguns estudantes gostam de comprar máscaras descartáveis devido ao cheiro do formol, mas na minha opinião isso é bobagem, pois querendo ou não o cheiro passa pela máscara facilmente.

Quando você começar a ter aulas de miologia em anato (estudo dos músculos), compre uma pinça anatômica ou peça emprestado a um veterano. Elas ajudam bastante na hora de você separar os músculos, principalmente aqueles pertencentes aos membros torácicos dos caninos e felinos (extensores e flexores).

O bixo pega mesmo é quando vocês precisarem fazer a dissecção de um cão. Varia muito de faculdade para faculdade, mas listarei abaixo os principais instrumentos que nós utilizamos aqui na minha, e o motivo de utilizarmos. Farei uma pesquisa de preço e, assim que conseguir, colocarei a média de cada material aqui.

Cabo de bisturi nº 4 e lâmina nº 24

1. Cabo e lâmina de bisturi (recomendo cabo nº 4 e lâmina nº 24).
Antes de mais nada na dissecção, é necessário que você faça a tricotomia do corpo inteiro do animal (retirada dos pelos). Alguns alunos podem pensar em usar máquinas de tosa, mas eu não recomendo pois o cão estará banhado em formol, e isso poderá estragar a lâmina da máquina. Aqui na minha faculdade a gente fez na fé e na coragem com o próprio bisturi (raspando o pelo).
Dá pra usar também aquelas lâminas de barbeiro, e caso você não tenha o suporte, poderá utilizar uma pinça hemostática para segurar, que funciona bem com esse tipo de lâmina. Acredito que gaste em média umas 15 lâminas para depilar um animal de porte pequeno a médio.

O bisturi também será utilizado para fazer as incisões e retirar a pele do animal.

Diferença de tamanhos entre os cabos de bisturi
Tesoura cirúrgica ponta romba fina

2. Tesoura cirúrgica ponta romba fina
Algumas estruturas você conseguirá cortar melhor com sua utilização. Sem contar que é sempre bom ter uma tesoura cirúrgica para quando você começar a fazer estágios na clínica (é o tipo de material que sempre precisa, mas todo mundo esquece de levar).

3. Pinça anatômica e pinça dente-de-rato
Você terá muita dificuldade se tentar separar os músculos com o bisturi ou com a tesoura. Com a ajuda da pinça anatômica você poderá separá-los muito mais facilmente. Com a pinça dente-de-rato terá muito mais apoio ao puxar a pele do animal, na hora da dissecção do subcutâneo/fáscia.

4. Porta agulhas, agulhas e fios
Na minha faculdade, meu professor exigia que a gente colocasse umas fitinhas com números catalogados em todos os músculos do corpo, mas com elas amarradas ao músculo. Na época todo mundo usou a pinça hemostática como porta-agulhas (para segura a agulha cirúrgica), mas aquilo acabou estragando boa parte das pinças. Caso você tenha uma graninha sobrando, recomendo que compre o porta-agulhas de uma vez para não estragar sua hemostática.

Porta agulhas (parece uma pinça hemostática, mas não é!)

Em relação às agulhas, você tem duas opções: comprar algumas agulhas cirúrgicas (aquelas redondas) ou comprar agulhas de seringa normal (25×7). Nas cirúrgicas, você precisa de algum fio grosso, como aqueles fios de pipas ou cordonês, por exemplo. Como as agulhas podem ser reutilizáveis, você precisa comprar apenas algumas (lembrando que elas podem quebrar). Já com as agulhas de seringa você utilizará fios de nylon. É só passar o fio por dentro da agulha, quebrar a bundinha (que eu nunca sei o nome) e apertar com uma pinça a parte da agulha que ficará com o fio. Nesse caso você precisará de várias agulhas, pois não dá para reutilizar a mesma.

5. Calculadora científica
Em algumas faculdades a matéria de estatística (ou bioestatística) é no primeiro ano, em outras é no terceiro. De qualquer modo tive que comprar uma calculadora científica pra resolver aquelas equações gigantescas. Eu comprei este modelo da Casio (FX-82MS), que normalmente é o mais utilizado e o mais fácil de mexer, mas este modelo da HP também não é ruim.

Uma dica para você carregar todos os materiais metálicos é comprar uma caixa cirúrgica de inox, que cabe tudo lá dentro. Aí pra não ficar chacoalhando dentro da mochila e parecendo uma marmita, é só colocar vários pares de luva enrolados igual meia junto com as pinças. Funciona direitinho :).

Bom galera, que eu me lembre, os principais materiais necessários no primeiro ano são estes. Depois que vocês passarem de ano, provavelmente já terão pego as “manhas” da faculdade e já saberão mais ou menos o que comprar nos próximos anos.


Lembrando que caso você resolva fazer estágio no setor de clínica, os professores poderão exigir roupa branca (ou pijama cirúrgico, se for em clínica cirúrgica, junto com gorro e máscara, assim como macacão para grandes), estetoscópio, termômetro, lanterna e relógio!

Espero que tenha sido útil para todos aqueles que estão começando a faculdade agora! Novas sugestões são sempre bem vindas, principalmente se eu esqueci de algo, :).

*Imagens obtidas através do site http://www.ufsm.br/tielletcab/HVfwork/apoptcv/cap4.htm

Diário de um estudante de veterinaria #4

Domingo, sete e meia da manhã. Começa a tocar a música Feeling This do Blink no celular. É, mais um dia de labuta está para começar!

Termômetro: confere; Estetoscópio: confere; Lanterna: confere; Tesoura: confere; Gorro e máscara: confere; Guia Terapêutico: confere. Após tudo estar preparado e banho tomado, estava eu no Hospital Veterinário lá pelas 08h15min, atrasado por sinal.
Sou bolsista de Iniciação Científica na minha faculdade, e isso significa que preciso acompanhar os plantões da minha orientadora no pronto socorro da clínica cirúrgica de animais de companhia, ou seja, muitos cães atropelados, muitas piometras e muitas distocias.
Logo que cheguei ao HV, os residentes ja estavam com um cão em decúbito lateral sobre a mesa de internamento. Comecei a acompanhar o exame físico, e pude notar que o abdome estava bastante distendido e rígido. Perguntei à residente sobre o caso e ela me informou que o animal estava com suspeita de tumor em vulva, onde estaria pressionando a uretra e impossibilitando o animal de urinar.
Enquanto isso, no outro ambulatório, outra residente estava atendendo um típico caso de piometra (infecção de útero), que já estava indo para a mesa de cirurgia. Como faço parte de um projeto de piometra, na qual coletamos conteúdo uterino, urina e sangue para análise, aproveitei o caso e fiz a colheita para ajudar a incrementar o numero de animais do projeto. N em projeto de pesquisa é igual coração de mãe, sempre cabe mais um! Haha.
Como durante os finais de semana só funciona o setor de pronto socorro do hospital, pedi a chave do laboratório de microbiologia para o professor plantonista da área e eu mesmo fiz a semeadura. Aproveitamos também e já fizemos cultura de urina da labradora com tumor de vagina, pois estava com muuuita hematúria (sangue na urina), e vai que tem uma infecção concomitante ali? A residente do laboratório até se confundiu na hora de pedir a urinálise, duvidando que aquilo ali fosse “xixi”, hehe.
Terminei de congelar o soro e de fazer as semeaduras lá por meio dia e meia.
Fui almoçar no buteco aqui do lado da faculdade com uma estagiária da UNESP Botucatu que está fazendo estágio aqui em Londrina, muito gente boa por sinal! Um dos pontos que acho excelente na medicina veterinária é essa interatividade que pode haver entre os diferentes estudantes de todo Brasil que você pode conhecer durante o estágio curricular.
Quando voltamos, já estava nos esperando um caso antigo do hospital, mas que aparecera ali com apatia, anorexia e decúbito preferencial. Feito o hemograma: 13% de hematócrito. Foi pedido ao proprietário para entrar em contato com possíveis doadores e os estagiários do banco de sangue foram acionados. Ah, a suspeita foi erliquiose, é claro.
Domingo é um dia engraçado de se fazer estágio. Durante a tarde não aparece absolutamente NINGUÉM no HV. Afinal, meu cachorro que está morrendo consegue aguentar o término do jogo de futebol, é claro.
Ficamos a tarde inteira cuidando dos animais do internamento, da labradora que estava recebendo fluidoterapia até agora e de dois outros filhotinhos que haviam chegado com suspeita de intoxicação por chumbinho. Ainda nesse meio tempo houve outro caso de trauma, mas nada mais grave.
Isso até acabar o jogo né. Lá pelas 8 da noite, quando estávamos quase nos arrumando para ir embora, telefonam no hospital avisando que trariam uma cadelinha com distocia. Tudo beleza, até minha orientadora ouvir que a proprietária administrou 1ml de ocitocina na pequenina pinscher.
Pelo menos o resultado foi positivo: uma cesariana e mais dois filhotinhos ao mundo.
Cheguei em casa já era quase 1 da manhã. Confesso que não consegui acordar no outro dia e matei estágio, mas prometo que da próxima vez eu consigo! Coitado do povo do banco de sangue, que deve ter passado das 4 da manhã, até terminar a transfusão! Hahaha.
Dessa vez foi escrito por mim mesmo! hahahaha


Diário de um estudante de Veterinária #3

Antes de começar a descrever meus dias como estudante de veterinária vamos às apresentações.

Meu nome é Diego S. Tavares, natural de Aracaju/Se e como o título dessa coluna já diz, estudante de Medicina Veterinária. Atualmente curso o 5º período numa instituição privada aqui de minha cidade (Faculdade Pio Décimo). Nela, além das aulas habituais, também faço vivência hospitalar as terças, quartas e quintas-feiras em clinica cirúrgica de pequenos animais no período da manhã, já que minhas aulas são a tarde.

Sou membro/coordenador do GEPAS-SE (Grupo de Estudos e Pesquisa de Animais Silvestres de Sergipe) sendo responsável pelo tratamento dos animais silvestres que ao Hospital Veterinário chegam, trazidos por órgãos públicos como a PM Ambiental, os Bombeiros e o IBAMA.  Também sou responsável pelo canil dos cães abandonados no Hospital Veterinário. E como trabalho pouco não vale, criei um perfil destinado aos veterinários do meu estado, os Veterinários Aju.

É isso ae, vamos ao meu dia!

A minha rotina começou (ou não terminou) às 03h30min da madrugada da quarta-feira 07 de março, pois fui à calourada de Medicina Veterinária na noite anterior.

Depois de menos de 4 horas dormidas, acordei às 07 da manhã, para que às 08 eu pudesse estar na faculdade para o estágio em vivência hospitalar na clínica cirúrgica. A cirurgia do dia foi uma osteotomia da cabeça do fêmur, e durou pouco menos de 3 horas, acabando meio dia. Almocei na facul mesmo e logo no início da tarde já estava em sala para assistir a aula de Fármaco (2hrs) e Economia aplicada ao agronegócio, sendo liberado às 17h30min.

Após as aulas fui cuidar dos meus afilhados cães abandonados no canil da faculdade. Fiz curativo em um, alimentei outros três e limpei 3 baias.

Terminados os cachorros, fui fazer o curativo de uma jiboia que está sob tratamento após cirurgia para correção de uma luxação na coluna, devido a um golpe de foice entre o 2º e 3º terço de seu corpo.

Acabei o tratamento dos animais por volta das seis e meia da tarde. Fui comer, pois saco vazio não para em pé. Quando eram sete horas, fui aprender a fazer taxidermia com um grupo de amigos. Um amigo formado e com conhecimento no assunto nos ensinou a técnica em um jacaré de papo amarelo que veio a óbito na segunda anterior. A aula de foi até às 22h30min e somente cheguei em casa às 23h20min.


Se estou cansado? Sim muito, mas também muito satisfeito pois como diria o comercial da rede sanduiches… “AMO MUITO TUDO ISSO!”.

Diego Santos Tavares
Diego é acadêmico do 5º período na Faculdade Pio Décimo, em Sergipe.

Diário de um estudante de veterinária #2

Em julho do ano passado, eu decidi que tomaria um rumo na minha faculdade, e resolvi fazer estágio no HV. Então eu ia, por duas semanas, toda feliz para o meu estagiozinho na Clinica Médica de Pequenos Animais.

Um belo dia, no período da tarde (onde eram atendidos apenas casos novos) chegou um  casal. Ele, o estereótipo do fazendeiro que toda  mulher um dia gostaria de casar: alto, musculoso, óculos estilo aviador, caminhonete. Ela, a típica patricinha que só estava com o cara por causa do dinheiro dele: megahair, muitas joias, corpo resultado de horas de academia. Daí você pensa que eles estavam levando um pittbull, ou um boxer, ou então um blue heeler, não é? Errado! Eles estavam levando um poodle para consulta (na ficha falava que era um sheepdog, mas se aquele animal era um sheepdog, minha vira-lata é um perfeito Pastor Alemão).

A consulta, ao início, corria muito bem: proprietário estava colaborando bem (ele falava que era veterinário, porém só trabalhava com grandes animais e não lembrava nada de pequenos). Sua queixa principal era que o animal estava apático. Ele havia levado outros exames que o cãozinho havia realizado e explicou que ele já teve casos anteriores de erlichiose… Tudo lindo! Quando eu terminei a anamnese as reclamações começaram: “Por que o atendimento aqui demora tanto? A gente chegou ao meio dia e só foi atendido agora!”. Eu, ainda no auge da minha calma e paciência expliquei: “Aqui, por ser um hospital – escola, precisa da supervisão dos professores, além do mais, só estamos com uma residente atendendo, e aqui no ambulatório do lado tem um gato que é considerado estado de emergência, porque corre risco de vida” (era um gato com PIF, mas essa é outra história!), ele se mostrou compreensível e parou de reclamar. Foi coletado sangue para hemograma, e pedimos para o proprietário esperar o resultado sair.  Daí o inferno começou pra valer…

Quando o hemograma saiu, com VG de 5%, e a contagem de reticulócitos zerada, a residente chamou o proprietário e explicou pra ele o que estava acontecendo, que provavelmente o animal dele estava com uma anemia aplástica e, que por causa do baixo número do VG, teria que fazer umas transfusão. Ele concordou em fazer, e os estagiários (no caso eu e mais uma amiga minha) ficaram encarregados de achar um doador de sangue. A gente conseguiu esse doador era mais ou menos 16h, e só conseguimos acabar de coletar o sangue, mais ou menos umas 17h (como eu disse, só havia uma residente, e como a cadela que a gente tinha era de um projeto daqui da faculdade, não poderia fazer tricotomia, ou deixar o animal com aparência de “doente”. Preferimos não arriscar fazer uma besteira).

Quando voltamos ao ambulatório, com a bolsa, falando que a transfusão iria durar cerca de 2 horas o cara ficou louco, disse que estava indo embora, que morava em outra cidade, que o atendimento do hospital era muito demorado, e perguntou por que a transfusão  demorava tanto (veterinário que entende muuuito, perceba!) . A residente tentou explicar os riscos de deixar o animal no estado que ele estava, e também explicou o porque de demorar tanto. Ele não quis saber, começou a ser grosso com a residente, e disse que era veterinário de grandes animais formado na UEL (fez questão de falar faculdade!), se ele não poderia levar a bolsa de sangue pra casa, e fazer a transfusão lá. Nesse instante a reação de todos foi algo do tipo: “WHAAAAAAAAT????”  mas ficamos de conversar com a coordenadora do hospital para autorizar… Quando encontramos ela, a professora estava com  um saco que dentro  havia dois testículos recém tirados… Contamos todo o rolo com o proprietário e ela só falou uma frase: “Ele não vai levar a bolsa!”. Voltamos e contamos isso pra ele, e como já era esperado, o homem ficou revoltado e começou a gritar com a gente… Nesse tempo o professor da clínica médica apareceu e disse que poderia fazer um atestado, livrando o hospital da responsabilidade  de qualquer reação adversa que o animal tivesse . Já eram umas 18h30 mais ou menos.

Enquanto o professor digitava o atestado, fomos coletar uma amostra de sangue para fazer o PCR para erlichia, mas para ajudar mais ainda na revolta do nosso amigo, a estagiária (que não era eu!) resolveu coletar o sangue da cefálica, achando que o volume iria dar… No fim a veia estourou. Depois de ver isso o cara tirou o cachorro da mesa, falou que ia embora e bateu a porta do ambulatório quando saiu.


Depois de conseguir irritar um hospital INTEIRO, ele foi pagar pelos materiais utilizados, e pra variar, foi de uma delicadeza incrível com a secretária, e começou a gritar na frente do hospital xingando tudo e todos.  Nessa mesma hora (eram umas 19h aproximadamente) estava chegando um Pastor Alemão da Policia Militar, em uma viatura da policia, o policial viu toda a movimentação, e aquela pessoa delicada gritando na secretária, e falou uma única frase que fez o proprietário se retirar com o rabo entre as pernas: “Tá acontecendo alguma coisa por aqui?” “Não senhor, já estava de saída”.

E a mulher que estava acompanhando ele? Ficou com uma vergonha tão grande do acontecimento que tentava tirar o marido daquele lugar o mais rápido possível.

Hoje eu não sei o que aconteceu com o “sheepdog”, mas eu espero que esteja bem.



Bárbara da Costa Osório
Bárbara é acadêmica do 4º ano de Medicina Veterinária na UNESP, Campus de Araçatuba.